quinta-feira, 21 de agosto de 2014

LONDRINA SURGIA A 85 ANOS

JORNAL DE LONDRINA

Há 85 anos, Craig Smith chegou ao Marco Zero e deu início à história de Londrina

De acordo com pesquisadores, a comitiva do inglês não foi a primeira que passou por Londrina, mas é tida como a oficial; seis anos depois, nasceu o Município - 21/08/2014 

Fábio Silveira




Há 85 anos, uma expedição da Companhia de Terras do Norte do Paraná chefiada por George Craig Smith estava a caminho do que hoje é a cidade de Londrina. Eles vinham do interior de São Paulo, passaram por Cambará e montaram acampamento no local onde fica o Marco Zero, na tarde de 21 de agosto daquele ano de 1929. Após 64 dias, a Bolsa de Valores de Nova York “quebrou”, o que mudou o rumo da História na década seguinte, com uma grande depressão econômica; 14 meses depois, em outubro de 1930, um movimento romperia com a política do “café com leite”, que alternava paulistas e mineiros na presidência da República, colocando o gaúcho Getúlio Vargas no lugar. É nesse ambiente que começa oficialmente a história de Londrina, que, em 1935, seria alçada à condição de município.
A chegada da expedição é considerada o “marco zero” da história de Londrina, mas antes do grupo chefiado por Smith existiram outras expedições que passaram por aqui. O site da Prefeitura fala de uma expedição de 1924, comandada por Lord Lovat, um técnico em agricultura e reflorestamento que “ficou impressionado com a exuberância do norte-paranaense e acabou adquirindo duas glebas para instalar fazendas e máquinas de beneficiamento de algodão”. Ele foi um dos fundadores da Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP), a empresa inglesa que loteou e vendeu as terras na região.

George Craig Smith/Acervo MHL
George Craig Smith/Acervo MHL / A expedição de Smith derrubou matas onde hoje fica o Marco Zero
Ampliar imagem

A expedição de Smith derrubou matas onde hoje fica o Marco Zero
Começo
A expedição de 1929, de George Craig Smith, mediu e demarcou as terras, derrubou as matas e começou a construir as primeiras casas. Antes dessa expedição, a área era ocupada por índios. Pesquisas feitas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) identificaram documentos do século 19 que relatam a presença indígena e de caboclos.

O historiador, escritor e professor do Departamento de História da UEL Rogério Ivano lembra que, antes da venda das terras da região para a companhia inglesa, já existiam planos de uma ferrovia que sairia de Santos (SP), passaria pelo Norte do Paraná, seguiria até o Paraguai e chegaria ao Chile, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. Havia ainda um projeto de ligar Cuiabá a Paranaguá, também passando pela região onde fica Londrina. Isto demonstra que, quando os ingleses chegaram para vender terras, a área já era conhecida e existiam informações sobre ela. “Existe uma série de dados prévios que auxiliaram essa caravana.”
O pesquisador e professor aposentado do Departamento de Ciências Sociais Nelson Tomazzi escreve a própria tese de doutorado sobre a construção da história de Londrina. Ele confirma que a expedição de 1929 não foi a primeira. “Foi a primeira oficialmente, ou seja, a primeira que a história oficial escolheu para colocar alguns nomes em evidência”, pontua. “Na minha tese, mostro como existem vários documentos, fotografias e coisas que afirmam que não foi a primeira. Essa expedição foi a de tomada de posse.” 
Tomazi afirma que no sul de Londrina já havia “muitas fazendas” e que as terras da CTNP iam somente até o Ribeirão Três Bocas.

Interesse em plantações e ferrovias
A forma como os ingleses da Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP) comercializaram os lotes pequenos do local que viria a ser Londrina, com custo baixo e com prazo longo para o pagamento, destoa do que eles normalmente faziam com terras adquiridas no exterior.
Normalmente, os ingleses implantavam o sistema conhecido como “plantations”, monocultura visando o mercado externo em grandes extensões de terras.
O historiador Rogério Ivano, professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), lembra que, antes da compra das terras no Norte do Paraná, os ingleses tentaram implantar um projeto desses, com algodão, no interior de São Paulo. Não deu certo. Isto pode ter feito com que os ingleses mudassem o projeto para o norte paranaense.
Para o pesquisador Nelson Tomazi, o principal interesse dos ingleses não eram as terras em si. “O que interessava mais era a ferrovia, eles lucraram muito mais com a ferrovia do que com a venda dos lotes, esse era o ponto principal.” 
Tomazi recorda que quando o governo Getúlio Vargas, na fase do Estado Novo, cassou a ferrovia dos ingleses, a CTNP “vendeu as terras para um grupo brasileiro e foi embora”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário