quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Londrina: Nasce uma cidade no meio da floresta virgem

JORNAL DE LONDRINA

No início, Londrina era anunciada como terra  “prometida”

Fruto do projeto de colonização da Companhia de Terras do Norte do Paraná, cidade foi destino de colonos de 33 nacionalidades

  • Antoniele Luciano/especial para o JL
Uma terra em área privilegiada pela natureza, dotada de clima inigualável e salubre. Uma terra roxa de primeira qualidade. Assim eram qualificados os lotes de 10 alqueires para cima, comercializados em Londrina pela Companhia de Terras do Norte do Paraná, em 1931. Os materiais de divulgação da época traziam a imagem de um milho gigante em um cafezal novo, a informação sobre a existência de terrenos planos, sem montanhas, saúvas e pedreiras, com água boa, corrente e ligados à estrada de rodagem. Era o negócio de oportunidade para quem, como bem dizia um dos fôlderes criados pelos ingleses, queria "construir lar e formar em pouco tempo o seu futuro".
  • Hospital e campo de tênis da Cia de Terras do Norte do Paraná em 1934 (Crédito: Acervo Museu Histórico de Londrina)
    Hospital e campo de tênis da Cia de Terras do Norte do Paraná em 1934 (Crédito: Acervo Museu Histórico de Londrina)
  • Casa Comercial Alberto Koch, década de 1930 (Crédito: Theodor Preising / Acervo Museu Histórico de Londrina)
    Casa Comercial Alberto Koch, década de 1930 (Crédito: Theodor Preising / Acervo Museu Histórico de Londrina)
A promessa era de que o solo londrinense era apto a produzir lucro com o que fosse do ramo da agricultura. Os lotes eram vendidos para pagamento em até quatro anos, com juros de 8% ao ano. Entre os paulistas, havia a possibilidade de obter a passagem de trem gratuita, com saída de Ourinhos, até Cornélio Procópio, a fim de fazer uma visita ao antigo Patrimônio de Três Bocas, Londrina antes de sua emancipação. O trajeto até a localidade era concluído de automóvel ou jardineira.
Eram mais de 515 mil alqueires prontos para venda, recorda o jornalista e pesquisador da História de Londrina, Widson Schwartz. "Sobre a qualidade da terra, sem dúvidas, não havia mentira. Diz-se que Lord Lovat, da Companhia de Terras, veio visitar o Paraná em busca de terras para plantar algodão, mas deduz-se que o governo do Paraná já queria colonizar a região e buscava um parceiro para isso", comenta.
O processo desenvolvido no que se tornaria mais adiante a Capital Mundial do Café foi inspirado, acrescenta, no que ocorreu em Birigui, interior paulista. "Há registros de que em 1924 Lord Lovat passou por Birigui, que contava com a colonização pronta, feita pela Companhia São Paulo de Colonização e Madeira. Birigui não tinha mais terras disponíveis, mas Londrina sim. Foi então que compraram 350 mil alqueires da Companhia Marcondes, detentora das terras na época, e o restante de outros concessionários", diz.
Segundo Schwartz, até o mapa de divisão dos lotes era semelhante ao feito em Birigui. Toda essa preparação contribuiu para que a cidade não perdesse tempo no quesito desenvolvimento. A mata foi derrubada e a estrada e os terrenos abertos rapidamente para receber os compradores. Os agrimensores vieram fazer as primeiras demarcações de território em 1932.
Já na década de 30, cidade tinha energia elétrica e pavimentação
Uma série de fatos importantes marcou a história de Londrina na década de 1930. Além da fundação do município, houve a implantação de serviços de energia elétrica, água e pavimentação das ruas. Foi nomeado o primeiro prefeito, Joaquim Vicente de Castro, pelo interventor de estado Manoel Ribas.

Mandato ameaçado

Em 1936, Willy Davis era eleito como prefeito. Chegou a ter o mandato ameaçado, por conta de sua ascendência inglesa, mas conseguiu provar a cidadania brasileira. A população fez passeata para saudá-lo após seu regresso de Curitiba, onde foi resolver o assunto.
Naquele ano também foi instalada a primeira Câmara Municipal de Londrina, presidida por João Wanderley. Em 1937, tinham início as atividades da Associação Comercial de Londrina. Em 1938, Londrina tornava-se comarca do Judiciário. No ano seguinte, contava com mais de dez escolas municipais, além de particulares, como o Instituto Mãe de Deus, e grupos escolares, então administrados pelo governo do Estado.

Desenvolvimento foi muito rápido

Quando foi fundada, em 1934, Londrina já era uma cidade organizada, com sua rua principal e comércio funcionando. Os pioneiros na atividade naquela década foram David Dequêch, Alberto Koch e Frederico Schulteiss. As Casas Pernambucanas foram inauguradas em 1935. "O desenvolvimento foi muito rápido, não existe nada igual à velocidade da urbanização dessa cidade. É como se Londrina tivesse nascido como uma empresa", pontua pesquisador Widson Schwartz.
Especialista em Patrimônio Público, o arquivista Amauri Ramos da Silva, do Museu Histórico de Londrina, relata que a Companhia de Terras construiu até o primeiro hotel da cidade, o Campestre, em 1930, para receber visitantes. Se no início, o município se fazia valer dos serviços que Jataizinho, criado em 1855, oferecia, pouco tempo depois de sua formação Londrina contava com serraria, médico, farmácia, hospitalzinho, gabinete dentário, olaria e transporte, através da fundação da Viação Garcia. As viagens até Jataizinho levavam cerca de oito horas, devido às condições da estrada. "Havia ainda uma fábrica de gelo, a Polo Norte, na antiga Rua Heimtal, hoje Duque de Caxias", diz o arquivista.

33 nacionalidades na terra roxa

A primeira localidade aberta foi o Distrito de Heimtal. A região recebeu inicialmente colonos alemães. Já o Distrito de Warta recebeu poloneses. Os japoneses, em especial vindos do Oeste paulista e com experiência em fazendas cafeeiras, também estavam entre os primeiros imigrantes a adquirir lotes em Londrina.
Outros colonos europeus, como italianos e russos, vieram para a região para se afastar da pobreza ou de perseguições políticas e religiosas. Muitos mineiros e paulistas que trabalhavam como colonos e queriam ter a própria terra rumaram ainda para o município em busca de oportunidade. Ao todo, eram 33 nacionalidades na terra roxa. "As primeiras casas eram de pau a pique, ranchos de palmito", detalha Silva. Em 1934, Londrina já tinha 1.346 habitantes, conforme levantamento da Companhia de Terras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário