domingo, 11 de março de 2018

PERSONAGENS FAMOSOS DE LONDRINA

FOLHA DE LONDRINA

Mestres da imaginação

Contadores de histórias são lembrados na exposição ‘Quem Conta um Conto Aumenta 1 Ponto’, em cartaz do Museu Histórico de Londrina

Fotos: Anderson Coelho

O andar entrecortado de tiques que remetiam à reação de alguém que tomava choques intermitentes rendeu a Toshiyuki Tsuda o apelido de Circuito. O imigrante japonês radicado em Londrina tornou-se uma figura lendária e inesquecível para quem viveu na cidade na década de 1980. Apesar dele próprio lembrar um personagem saído de uma fábula qualquer, Circuito dedicou sua vida à arte de contar histórias através dos kirigamis que produzia no Calçadão. Em poucos anos, a estranheza que ele causava nas crianças da época e a dificuldade que tinha na fala em segundos cediam lugar a empatia que despertava pela habilidade em reproduzir animais e objetos usando apenas papel e tesoura. 

O encantamento que Circuito provocava nos londrinenses é lembrado na exposição "Quem Conta um Conto Aumenta 1 Ponto", que integra as atividades relacionadas ao 7° Ecoh - Encontro de Contadores de Histórias de Londrina e foi produzida pela Cia Zoom. Focada no ofício exercido por contadores de histórias desde a era primitiva até a contemporaneidade, a mostra aberta no último sábado (3) e que fica em cartaz até o próximo dia 31, no Museu Histórico de Londrina, homenageia também o londrinense Sebastião José Narciso, o "Tião Balalão", que perdeu a visão em um acidente e encontrou na falta de luz a visão encantadora das histórias passando a contá-las por onde passava. 

LONDRINA EM FOTOS
Toshiyuki Tsuda, conhecido como Circuito e que fazia kirigamis no Calçadão, nas décadas de 70 e 80, é homenageado na exposição com obras produzidas por Paulo Tio

"Estamos homenageando o Circuito e o Tião Balalão devido à grande relevância dos dois como grandes contadores de história londrinenses", afirma a contadora de histórias Patrícia Maia, conhecida como Pati dos Bonecos, que montou a exposição em parceria com a irmã Renata Maia e o artista plástico Paulo Tio. 

Nascido no Japão, em 1929, o kirigamista Circuito morreu em Londrina, em 1988, com 59 anos. Na exposição "Quem Conta um Conto Aumenta 1 Ponto", o imigrante japonês é lembrado por dezenas de obras em kirigami produzidas por Paulo Tio, que criou e montou em um painel de três metros uma história em quadrinhos que conta com a arte de Circuito que influenciou sua vida profissional. "O Paulo Tio afirma que se tornou arquiteto e kirigamista após acompanhar de perto o trabalho de Circuito. No painel criado para a exposição ele conta essa história, além de ter criado especialmente para a mostra um kirigami gigante de quatro metros com a figura de um pterodáctilo que fica pendurado em uma das salas da exposição", esclarece Patrícia. 

LONDRINA EM FOTOS/ Reprodução
Toshiyuki Tsuda, conhecido como Circuito e que fazia kirigamis no Calçadão, nas décadas de 70 e 80, é homenageado na exposição com obras produzidas por Paulo Tio

Sociólogo por formação com especialização na área de política inclusiva Tião Balalão é homenageado com um vídeo produzido pelas organizadoras da mostra. "O Tião era mais conhecido no meio escolar. Criamos uma animação em 2D inspirada no projeto "Engenho – Imaginatião", que resultou em sete livros infantis de sua autoria. Também produzimos além de uma instalação com espelhos em referência ao livro "Por Detrás dos Olhos" lançado em maio de 2004 e voltado para o público adulto", detalha Patrícia. 

Ela esclarece ainda que as instalações da exposição seguem uma ordem cronológica que mostra como a contação de histórias atravessou os séculos até chegar nos dias atuais. "Na primeira sala, estão expostos trabalhos que remetem à oralidade, quando as histórias eram contadas apenas através da fala. Nesse espaço, o visitante encontrará gravações de áudio de histórias contadas em árabe, russo, japonês e francês, entre outros idiomas. Textos com a tradução destas histórias também integram a mostra", esclarece artista plástico Paulo Tio. 

Patrícia Maia informa que na sequência o visitante encontrará referências aos primeiros registros de histórias encontradas em cavernas e cerâmicas até chegar aos primeiros livros de literatura infantil. "Criamos uma floresta que remete à mãe de todas as histórias infantis, que é Chapeuzinho Vermelho e espaços onde são destacadas obras de Monteiro Lobato, Ruth Rocha e Ana Maria Machado, além de grandes mestres da literatura infantil mundial que tiveram seus trabalhos expandidos das páginas dos livros para as telas dos computadores", resume. 

Marcos Zanutto/ Arquivo Folha
O contador de histórias Sebastião José Narciso, o Tião Balalão, também recebe homenagem póstuma na mostra

Ela ressalta que ao focar na figura dos contadores de história, a exposição destaca a importância que a contação para a construção do mundo contemporâneo. "Todas as nossas referências são repassadas através das histórias que são contadas de diferentes formas. É a partir de uma determinada história já registrada que alguém, por exemplo, consegue aprimorar uma determinada tecnologia existente. Pensando nisso é que a exposição se chama "Quem Conta um Conto Aumenta 1 Ponto", finaliza. 

Serviço: 
Exposição "Quem Conta um Conto Aumenta 1 Ponto"
Quando – Até o dia 31 de março (de terça-feira a sexta-feira das 9h às 11h30, e das 14h30 às 17h30;e aos sábados e domingos das 9h às 11h30 e das 13h30 às 17 horas)
Onde – Museu Histórico de Londrina (R. Benjamin Constant, 900)
Gratuito

Marcos Roman
Reportagem Local